Doença de Parkinson pode ser revelada por meio de aparelhos que podem identificar sintomas característicos até 7 anos antes da avaliação clínica
Recentemente, um estudo realizado no Reino Unido e publicado na revista acadêmica Nature Medicine revelou que smartwatches (relógios inteligentes) podem ajudar a identificar a doença de Parkinson até 7 anos antes do surgimento de sintomas.
A descoberta que envolve a doença de Parkinson tem implicações tanto para pesquisas, pois permitirá melhor recrutamento de pessoas para ensaios clínicos, quanto, futuramente, na prática clínica, uma vez que possibilita que pacientes em estágios menos avançados tenham acesso a tratamentos.
Vale destacar que com o avanço da tecnologia e medicina, outras técnicas vêm surgindo e que podem ajudar na restauração de funções do Parkinson, por exemplo. É o caso do método de Indução de Proteínas de Choque Térmico, minimamente invasivo, desenvolvido pelo médico brasileiro Marc Abreu.
Doença de Parkinson
O Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. É causada pela morte de neurônios, em especial em uma área do cérebro conhecida como substância negra –responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor que, entre outras funções, ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo de modo automático.
Sendo assim, na falta de dopamina, o indivíduo perde controle motor. A lentidão dos movimentos e os tremores nas extremidades das mãos costumam ser os primeiros sinais e o diagnóstico é fundamentalmente clínico, baseado nos sintomas descritos.
Como foi o estudo
No estudo, dados de participantes que já haviam sido diagnosticados com a doença foram comparados com os de outro grupo que recebeu o diagnóstico até 7 anos depois da coleta dos dados.
Para isso, pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Demência no Reino Unido e do NMHII (sigla em inglês para Instituto de Inovação em Neurociência e Saúde Mental), da Universidade de Cardiff, utilizaram um dispositivo eletrônico para coletar, entre outros dados, informações sobre a aceleração dos movimentos de 103.712 participantes do Biobanco do Reino Unido.
A plataforma reúne dados de mais de 500 mil pessoas de 40 a 69 anos e que está disponível para a comunidade científica. Os dados foram coletados durante uma semana de 2013 a 2016.
Inteligência Artificial
Contudo, por meio do uso de inteligência artificial e modelos estatísticos para filtrar as informações coletadas e definir quais conjuntos de dados tinham melhor correlação com o diagnóstico da doença, os pesquisadores conseguiram identificar que padrões associados à velocidade de movimento e qualidade do sono estavam relacionados a um futuro aparecimento do Parkinson.
Além disso, os pesquisadores conseguiram demonstrar que poderiam aplicar os resultados obtidos entre os participantes do estudo na população geral e, assim, identificar indivíduos que mais tarde acabariam desenvolvendo a enfermidade.
Eles descobriram ainda que os dados sobre aceleração dos movimentos foram mais precisos em prever se alguém desenvolveria a doença do que qualquer outro fator de risco, como estilo de vida ou genética, ou outro sinal precoce característico da doença. O modelo também foi capaz de prever o tempo até o diagnóstico.
Apple Watch
Por outro lado, Cynthia Sandor, líder do Instituto de Pesquisa de Demência no Reino Unido, disse que os dados coletados pelo dispositivo eletrônico usado no estudo não são diferentes de dados coletados por smartwatches comuns que possuem acelerômetros, como o Apple Watch.
“Dados coletados por smartwatches são obtidos facilmente e com baixo custo. Ao usar esse tipo de dado, podemos potencialmente identificar indivíduos nos estágios iniciais da doença de parkinson na população em geral.”
Tratamento da doença
Conforme Sandor, na maioria dos pacientes diagnosticados com Parkinson, 50% a 70% dos neurônios dopaminérgicos já estão degenerados quando os sintomas motores característicos se manifestam.
Por fim, ainda não há tratamentos disponíveis que possam curar ou evitar a progressão da doença, apenas medicamentos que repõem parcialmente a dopamina que não está sendo produzida.
“Mostramos que uma única semana de dados capturados pode prever eventos até 7 anos no futuro. Com esses resultados, poderíamos desenvolver uma valiosa ferramenta de triagem para auxiliar na detecção precoce do Parkinson.”
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/closeup-de-um-apoio-de-maos_2769161