Capacidade das empresas para quitar dívidas envolve também o aumento da inadimplência e menor fluxo de caixa, desde 2022
Há algum tempo, mais precisamente desde 2022 que as empresas brasileiras enfrentam dificuldades financeiras e aprofundam suas dívidas com resultados fracos. E tudo isso em meio a taxas de juros ainda altas praticadas pelo Banco Central (BC).
De acordo com estudo de Cemec-Fipe, os números de inadimplência aceleraram durante este período. Por sua vez, as recuperações judiciais (RJs) aumentaram 103% em novembro de 2023, comparada à mesma época de dois anos atrás.
Vale destacar também uma pesquisa realizada pela consultoria especializada em reestruturações, RK Partners. Neste levantamento ficou evidente que as taxas de crédito para capital de giro caíram de 30,3% em janeiro de 2023 para 27,3% no mesmo período desse ano. Segundo o fundador da empresa, Ricardo Knoepfelmacher, mais conhecido como Ricardo K.,“o número de consultas que temos recebido de empresas com endividamento acima de R$ 200 milhões aumentou bastante”.
Capacidade das empresas para quitar dívidas
Por outro lado, na base atual, o número de recuperações judiciais saltou 68,7% em 2023, atingindo 1,4 mil solicitações, conforme informação divulgada pela Serasa Experian, com algumas grandes empresas, como Americanas, Light e Oi, nessa situação.
Segundo especialistas ouvidos pelo portal de notícias CNN, a expectativa para o setor de negócios no Brasil ainda é muito incerto, desafiador e sem sinal de alívio.
Preço da dívida no Brasil
É preciso entender que esse cenário tem como origem, especialmente, o endividamento adotado em 2020 e 2021, quando a Selic — a taxa básica de juros — ainda apresentava números muito baixos, de 1,90% e 9,15% ao final de cada ano, respectivamente, assinala o levantamento.
Já o pesquisador da Business School e PhD em economia pela Universidade da Califórnia, Carlos Alberto di Agustini, explica que o processo de contrair capital de terceiro, ou seja, uma dívida, é muito mais barato e frequentemente utilizado pelas companhias para obtenção de recursos.
Segundo Agustini, apesar de ser bastante usada no exterior, no Brasil, tal medida se torna uma armadilha do tamanho dos juros aplicados no país.
“A questão não é só o caixa que não consegue pagar a dívida”, afirma o pesquisador.
Os mesmos especialistas destacam que as taxas praticadas no Brasil estão entre uma das mais altas do mundo.
Taxa Selic
Atualmente, mesmo após constantes cortes de 0,5 ponto percentual, a Selic se encontra em 11,25% ao ano. Os números refletem uma política monetária restritiva adotada pelo BC, seguido de um Orçamento Federal em 2023 com mais da metade para juros e amortizações da dívida, conforme peça orçamentária enviada ao Congresso.
Pós-pandemia
Agustini reforça também que muitas empresas entraram com dívidas mais exageradas para sobreviver a pandemia da Covid-19, em que muitos negócios foram fechados.
Já ao comparar o crescimento do endividamento no mercado doméstico, os números vão de 31,3% para 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em setembro de 2023, em oposição às dívidas do mercado internacional, em queda de 18,9% para 17,5% no mesmo período.
“Então é muito difícil você exigir da operação um retorno, uma lucratividade, um ganho, que pudesse suportar essa taxa de juro”, analisa o especialista.
Valor de repasse aos consumidores
Todavia, Agustini acrescenta que uma das saídas seria repassar o valor aos consumidores. Porém, com o preço alto, muitos brasileiros não conseguiriam arcar.
Por fim, o levantamento da Cemec-Fipe exclui ainda a Petrobras, Eletrobras e Vale para evitar a distorção dos números devido ao tamanho das companhias.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/mulher-cansada-trabalhando-ate-tarde-em-um-prazo_15420089.htm#fromView=search&page=1&position=4&uuid=05a5e403-5f96-406c-b8fc-f39456ad9788