Saúde mental dos professores pode abordar as dificuldades em sala de aula e os riscos de depressão, revela Paula Rosiska
Apesar de o Dia dos Professores ser um momento de agradecimento aos que fazem parte da construção de um indivíduo desde a primeira infância, as coisas não são bem assim quando envolve a saúde do profissional. Segundo Paula Rosiska, professora de português e literatura na zona sul de São Paulo:
“A gente cresce ouvindo que o professor ‘trabalha por amor’, e, quando encontramos os problemas, aquilo nos frustra muito e acaba nos adoecendo.”
De acordo com a professora da rede estadual há mais de 15 anos, a docente escreveu no ano passado um livro de crônicas “Vida ao rés do chão escolar: Crônicas da sala de aula” com base nos acontecimentos “simples” e rotineiros da sala de aula. Algumas dessas situações a levaram a pedir exoneração do cargo, para continuar atuando apenas pelos colégios da Prefeitura.
Saúde mental dos professores
Além disso, para se ter uma ideia real a respeito da saúde mental dos professores no Brasil, “nos seis primeiros meses deste ano, a rede estadual registrou um total de 20.173 professores afastados por questões relacionadas à saúde mental, um aumento de 15% em comparação ao mesmo período de 2022, de acordo com os dados obtidos pela Rede Globo através da Lei de Acesso à Informação”.
Aos 43 anos de idade, Paula leciona há mais de 20 anos e afirma que ser professora era um sonho. Apesar de nunca ter sido fácil, ela sente que os impedimentos são maiores hoje em dia. “A gente é muito xingado, como se fosse um absurdo entrarmos ali para dar aula”, comenta a educadora.
Ela admite que tem dias em que não queria sair de casa. “Mas penso que pode ter algum aluno, alguma aluna, que precisa saber sobre as crônicas lindas do Fernando Sabino, por exemplo, e que aquilo vai libertá-la, libertá-lo”, desabafa a professora que já deu aulas em Santo Amaro e no Grajaú.
Fatores externos
Todavia, Paula explica que existem muitos fatores externos que afetam a saúde mental dos docentes. Isso porque a escola se torna um lugar de refúgio para o aluno, que nem sempre tem o devido apoio dentro de casa. “O adolescente vê o professor como um amigo. E isso, muitas vezes, ultrapassa o ensino, porque não temos apoio da gestão para intervir em coisas mais graves”, afirma.
Para a docente, o desgaste se dá com a soma das horas trabalhadas, e a impotência do próprio professor em resolver assuntos para além da escola.
Ela cita ainda que os educadores lidam com frustrações constantes. Um exemplo é quando alguns estudantes ignoravam as explicações. “Achava que o problema estava em mim”, diz. Mas, com o tempo, ela conseguiu administrar mais essas sensações. “Comecei a perceber que sempre tinham aqueles que paravam para te escutar.”
Apesar disso, a falta de escuta em sala de aula e também pela gestão da direção da escola, começou a pesar. “Percebi que o problema não estava em mim, e que eu estava mentalmente sobrecarregada”, reflete ela sobre os desafios em sala de aula.
Seduc
A Seduc (Secretaria da Educação) afirma que conta com trilhas formativas voltadas à promoção da saúde mental no ambiente escolar e reforçou que, recentemente, contratou 550 psicólogos para atuarem na rede estadual, dando suporte a alunos e professores. Apesar disso, muitos professores já estão no limite, e não conseguem encontrar este apoio.
“Às vezes, quando você revela sua condição, você não tem respaldo da direção da escola, você não tem respaldo dos demais professores. E se vê isolada.”
Paula Rosiska foi diagnosticada com depressão e ansiedade.
Hoje, a docente leciona apenas para uma instituição de Santo Amaro, que é gerida pela Prefeitura de São Paulo. Depois de 7 anos trabalhando no José Vieira de Moraes, no Rio Bonito, próximo ao distrito do Grajaú, a professora diz sentir falta da liberdade que o estado dava para conduzir as aulas.
“A gente tinha abertura para propor projetos, levar a galera para o teatro, fazer coisas diferentes”, revela Paula, que cita que muitos alunos tinham nesses momentos a primeira oportunidade de ir a um espaço cultural.
Novo ensino médio e regime integral
Apesar das boas lembranças, a educadora relembra também a exaustão que a levou pedir exoneração do cargo, quando a escola passou a adotar o novo ensino médio e o regime integral. “Eu já dava aula para 18 salas, e teria que equilibrar todos aqueles alunos, com idades diferentes, que apesar de próximas, queriam coisas distintas, além de todo descaso e falta de compreensão por parte da direção”, completa.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/professora-sentada-cansada_10058672