Abismo social é sentido principalmente entre as comunidades carentes, onde a ajuda chega por meio da união de organizações da sociedade civil
Desde março deste ano, quando foi decretado em todo o Brasil o estado de calamidade, em razão da propagação do novo coronavírus, muito aconteceu no setor de educação.
Nestes quase nove meses de pandemia pais tiveram que se transformar em professores, ou ao menos tentar. Afinal de contas, o público mais impactado pelo período de quarentena é composto por crianças e adolescentes. Isso porque eles não tiveram só o direito à educação presencial perdido, vai muito além de perder o contato diário com os colegas. Muitas delas dependiam da merenda escolar como única refeição nutritiva do dia.
Abismo social em números
De acordo com o estudo “Educação em Pausa” , realizado pela UNICEF sobre os impactos da Covid-19 na educação, mais de 137 milhões de crianças e adolescentes na América Latina se viram sem um ensino presencial.
O levantamento apresentou ainda outra realidade do Brasil: 4 milhões de estudantes do ensino fundamental (14,4%) estavam sem acesso a nenhuma atividade escolar.
Situação escolar nas favelas brasileiras revela abismo social
A situação da educação se agrava ainda mais quando se trata das favelas. Segundo uma pesquisa da DataFavela, 55% dos estudantes das favelas do país estão sem estudar durante a pandemia. Os motivos vão desde a fata de um local adequado para estudo à falta de acesso á internet, além de não possuírem computadores. A distância dos professores também contou para este agravamento.
Além disso, a pandemia gerou uma falta de esperança entre os pais desses alunos da rede pública. 75% dos pais e mães têm medo da possibilidade de seus filhos perderem o ano letivo. 47% dos estudantes temem querer desistir dos estudos se não conseguirem acompanhar as aulas remotas. Contudo, 71% dos pais se sentem inseguros em mandar as crianças de volta à sala de aula; e 90% acreditam que as escolas não vão estar preparadas para um retorno seguro.
Papel das organizações da sociedade civil
Contudo, abismo social, durante a pandemia, só não piorou graças à intervenção de organizações da sociedade civil. É o caso da CUFA (Central Única das Favelas), fundada pro Celso Athayde. Por meio da campanha “Alô Social” foram distribuídos 500 mil chips de celular em quase 5 mil favelas em todo o Brasil. Por enquanto, este foi o maior projeto de conectividade feito nestes locais.
Então, esta ação social visa a democratização do acesso à comunicação e internet. Sendo assim, o projeto vai impactar 4 milhões de pessoas até junho de 2021.
Athayde ressalta que a pandemia impactou negativamente toda a sociedade. Porém, a parcela mais prejudicada era justamente a população que tinha menos chance de se proteger. Para ele, as mais vulneráveis são as mulheres, em especial as mães. Portanto, a CUFA cencontrou seus esforços de combate ao novo coronavírus por meio das mães dessas comunidades, explica o fundador:
“Sabemos que há uma grande desigualdade social no Brasil, e, além disso, uma grande desigualdade digital. Nesse momento em que as escolas estão fechadas, essa desigualdade grita, pois parte dessa população não tem condição de acompanhar os conteúdos que estão sendo disponibilizados.”
Ele explica ainda que o Alô Social surgiu para fazer com que 500 mil mães pudessem estar conectadas para empreender ou aprender algo novo, e que seus filhos estivessem conectados para não perderem o ano letivo.
Campanha Educação na Pandemia
Por outro lado, a campanha “Educação na Pandemia”, promovida pelo Instituto Alicerce distribuiu 2.000 bolsas de estudo para reforço escolar remoto ao vivo e também com aulas planejadas de modo personalizado.
Contudo, o programa de complementação escolar foi adaptado durante a pandemia. Com isso, surgiu a iniciativa “Alicerce em Casa”. O programa oferece suporte e apoio para pais e alunos.
Segundo Andrea Matsui, diretora executiva do instituto, muitos alunos da rede pública de ensino só tem acesso ao WhatsApp. Portanto, enviar a tarefa escolar por ali não seria o bastante. Então, vieram os educadores do Alicerce, líderes formados por estudantes universitários, que são treinados e capacitados para o desenvolvimento das atividades. Um desses líderes revela que entre os desafios dos alunos está a falta de um horário fixo dedicado somente aos estudos.
Entretanto, pais e mães também encontram dificuldade em oferecer o suporte necessário aos filhos para a realização das tarefas escolares. Isso porque muitos deles não concluíram o ensino médio ou não se recordam de seus conteúdos para auxiliar os estudantes.
Quando o vínculo é perdido com a instituição de ensino
A pandemia também provou que há um abismo social no sentido de vínculo entre professores e alunos. Sobre isso, o “Ensina Brasil”, programa que recruta, seleciona e capacita jovens talentos para atuar na rede pública, promoveu a realização de iniciativas extracurriculares a fim de lidar com os desafios educacionais gerados neste momento.
Com isso, mais de 260 mil alunos já foram impactados por meio de mais de 50 iniciativas. Entre elas a Ligação do Bem, criada para incentivar o vínculo entre professores e alunos através de ligações telefônicas durante o isolamento social. A atitude contribui para a redução da evasão escolar.
Reorganização de currículos
Quando for possível o retorno às aulas presenciais, outro desafio ocorrerá: reorganizar os currículos dos alunos. Então, será mais fácil identificar o que de fato foi aprendido durante o período de aulas remotas. Até onde as crianças e adolescentes conseguiram acompanhar as tarefas.
Em contrapartida, existe um ponto positivo no meio de tudo isso: a oportunidade de repensar e reconstruir sistemas educacionais que ofereçam um aprendizado adequado. E, principalmente, que este novo sistema gere uma igualdade de acesso às tecnologias. Isso também diz respeito a ambientes de estudo mais seguros e inclusivos.
*Foto: Reprodução/Portal Marcos Santos