O retrocesso na educação foi avaliado quanto ao aprendizado de estudantes em seus anos finais de ensino fundamental e médio, especialmente em matemática e língua portuguesa
Recentemente, um estudo do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona, vinculada à Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP Clear), e encomendado pela Fundação Lemann, verificou que houve um retrocesso na educação em pelo menos quatro anos. O motivo: a pandemia de Covid-19, que ocasionou perda de aprendizado a muitos estudantes. Junto a isso vem o sistema de ensino remoto. Além de aumentar ainda mais no Brasil as desigualdades sociais entre alunos das regiões Norte-Nordeste, com os de estudantes do Sul-Sudeste.
Retrocesso na educação
O resultado do estudo mostra que os alunos deixaram de aprender mais em matemática em comparação com língua portuguesa. E na maioria dos casos os mais prejudicados foram os alunos do ensino fundamental.
O levantamento se baseou no estudo do Banco Mundial, em relação às estimativas de impactos do fechamento das escolas pela: “Covid-19: Simultating the potential impacts of COVID-19 school closures on schooling and learning outcome: a set of global estimates”. Em tradução livre: “Simulando os potenciais impactos do fechamento das escolas pela Covid-19 na educação e nos resultados de aprendizagem: um conjunto de estimativas globais, em tradução livre”.
Cenários
O estudo também apontou três cenários para o retrocesso na educação:
- Otimista, em que os alunos aprendem por meio do ensino remoto tanto quanto aprendem no presencial, desde que realizassem as atividades escolares;
- Intermediário, em que os alunos aprendem por meio do ensino remoto proporcionalmente às horas dedicadas a atividades escolares;
- Pessimista, em que os alunos não aprendem com o ensino remoto.
Explicações para o retrocesso na educação
Neste último, os números revelam uma perda equivalente ao retorno à proficiência brasileira no Saeb de quatro anos atrás (entre os resultados de 2015 e 2017) em língua portuguesa e de três em matemática (2017), nos anos finais do ensino fundamental.
Já no intermediário, a queda corresponde ao retorno para o resultado de proficiência do Saeb de 2017 em ambos os componentes curriculares.
Horas de dedicação às atividades
Contudo, o número de horas dedicadas às atividades não presenciais podem fazer a diferença. Isso porque quando se fala em um cenário intermediário, tem que se levar em consideração que os alunos aprendem no ensino remoto de forma proporcional às horas dedicadas a atividades escolares. Além disso, alunos dos anos finais do ensino fundamental teriam uma perda de 34%, ao passo que os estudantes do ensino médio, registrariam 33%. E se ainda for considerado o cenário pessimista, em que os alunos não aprenderiam nada com o ensino remoto, ambos os ciclos perdem o equivalente a 72% no aprendizado.
Nível de aprendizado em um ano típico
Por outro lado, o estudo também considerou o nível de aprendizado em um ano típico (usando dados do Saeb de 2015 a 2019). Com isso, o tempo de interrupção das aulas seria (estimado em 72% do ano letivo) e o eventual aprendizado com o ensino remoto (explorado nos cenários otimista, intermediário e pessimista).
Características pessoais
Em termos de simulações quanto a características pessoais dos estudantes: sexo, raça/cor e escolaridade da mãe, o resultado se deu na forma de subgrupos. Aqui, foram analisados o cenário intermediário, estimando que os meninos aprenderam menos que as meninas, principalmente em matemática nos anos finais do ensino fundamental.
Mais prejudicados com o retrocesso na educação
Os grupos populacionais mais prejudicados foram os dos anos finais do ensino fundamental (5º ao 9º ano) e ensino médio. E em ambos os componentes, são os do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o ensino fundamental. Em compensação, os menos prejudicados são, na maioria dos casos, do sexo feminino, que se declararam brancas, com mães com pelo menos o ensino médio completo.
Desigualdade social
A desigualdade social aparece nos cálculos realizados para cada um dos estados brasileiros. Em ambas as etapas de ensino, os estudantes das regiões Norte e Nordeste deixaram de aprender mais que alunos do Sul e Sudeste.
Plataforma de Apoio à Aprendizagem
No intuito de apoiar as redes de ensino de todo o país neste retrocesso da educação que piorou na pandemia, foi lançada a Plataforma de Apoio à Aprendizagem. Ela fornece ferramentas para aplicação de avaliações diagnósticas.
Sendo assim, as atividades de verificação de aprendizagem são disponibilizadas gratuitamente para professores e gestores escolares e auxiliam na construção de planos de aula efetivos.
A iniciativa é do Consed e da Undime, por meio da Frente de Avaliação, com apoio do BID, CAEd/UFJF, Fundação Lemann, Fundação Roberto Marinho, Instituto Ayrton Senna, Instituto Reúna e Itaú Social.
*Foto: Divulgação/ Seed